sexta-feira, 19 de novembro de 2010

MENINA DAS ÁRVORES - PARTE II

Por Ciro M. Costa

Tentei de várias formas subir na árvore, mas não tive êxito. Acho que deveria ter namorado menos e brincado mais com meus amigos para ter aprendido essa lição...
- Vai me dizer que não consegue subir numa árvore? – perguntou-me a bela moça lá de cima, e deu uma gargalhada.
- Eu... pois é.. está meio difícil de subir nessa.
Ela desceu mais um pouco e me estendeu a mão:
- Segura aqui, eu te ajudo.
Ainda sem jeito, segurei em sua delicada mão, e ela me puxou com muito carinho.
- Pronto, essa era a parte mais difícil. Vá se segurando nos galhos mais fortes e me acompanhe até lá em cima. – ela disse, e nesse momento percebi que seus cabelos eram naturalmente loiros.
Ela tinha razão, não tive dificuldade em subir no restante dos galhos. Chegando lá em cima ela me mostrou uma bonita fruta para apanhar.
- É goiaba da vermelha. – ela disse. – Você gosta?
- Sim. – respondi, tímido.
- Não gosto de goiabas brancas. Nem sei por que elas existem?!
- Eu também não gosto das brancas.
- Tem tanta coisa que a gente nem sabe porque existe, né?
- É verdade.
- Qual é o seu nome?
- Eu... eu me chamo Joshua. – estava ainda muito tímido e totalmente intimidado por aquela beleza.
- Bonito nome. Você tem cara de bobo, Joshua. Joshua bobo. Hihihihihi...
Em outra ocasião eu ficaria zangado com aquilo. Mas naquele momento, e vindo da boca dela... acho que isso seria bem difícil.
- Hehehe... – ri, sem-graça. – E qual é seu nome?
- Meu nome é Alice.
Lembrei-me de um desenho da Disney, “Alice no País das Maravilhas”. Essa Alice era bem parecida com aquela. Até o vestido azul.
- Você estava triste lá embaixo. Está com algum problema? – ela perguntou.
- Não. Está tudo bem. Deve ser impressão sua.
¬- Tudo bem. Nunca te vi por esses lados, Joshua bobo.
- É a primeira vez que venho aqui.
- Um parque tão bonito com essas árvores maravilhosas, e você só veio até aqui hoje?
- Pois é... quanto tempo perdido. – “Realmente, são belas árvores e aqui é realmente muito bonito, principalmente com você por perto”, pensei comigo.
- Já sei por que você está triste! – disse ela, de sopetão. – Brigou com a namorada, né???
- Bem... na verdade não tenho mais namorada.
- Que pena! Mas vão voltar?
- Eu não sei.
- Ah, volta sim!
- Acho que não...
- Você é um rapaz simpático. Pode encontrar outra por aí.
- Concordo com você...
- Sabe, eu quero casar quando for mais velha.
- Você tem namorado?
- Eu? Ainda não. Estou esperando encontrar. Acho que todo mundo, não é mesmo?
- É verdade.
- Você parece sem jeito, Joshua. Também, nem te conheço e fico perguntando essas coisas, né?
- Não, não se preocupe. Acredite em mim, em nenhum momento isso me incomodou. Pra falar a verdade, me sinto bem de estar aqui em cima com você.
- Ah, obrigada! Você está sendo muito gentil.
- Mas não é gentileza...
- Bem, de qualquer forma, gostei de você. Mas agora preciso ir.
- Mas já???
- Sim, preciso ir pra casa.
- Espere... quando a verei de novo?
- Sempre que vier ao parque. Estarei aqui até quando precisar de mim.
- Como assim, “precisar”?
- Oras, Joshua! Precisamos uns dos outros nessa vida. Não quer ser meu amigo?
- Bem, eu... – na verdade, eu pretendia ser ‘mais’ do que um amigo naquele momento.
- Pois então. Pode vir aqui, e sempre que precisar, estarei em uma dessas árvores. Agora preciso mesmo ir.
- Tudo bem. Até mais.
- Até mais, Joshua bobo! Hahahahah!!!
- Hehehe...
Ela desceu da árvore, e num instante sumiu. Fora como um anjo, enviado por Deus naquele momento. Do nada, uma bela moça, em cima de uma árvore, me fez sentir bem, como há muitos dias não me sentia. Mas eu estava triste de novo. Não queria descer da árvore e voltar para minha vida real. Queria continuar ali, e desejei que ela voltasse antes do anoitecer para continuarmos nossa conversa. Queria vê-la de novo, nem que fosse apenas para observá-la, porque isso já me fazia muito bem. Imaginei, desejei, rezei (coisa que não costumava fazer) para que ela retornasse ainda naquele dia.
Mas ela não apareceu. Desci da árvore e voltei pra casa.

Nenhum comentário: