sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

MENINA DAS ÁRVORES - PARTE IV

Por Ciro M. Costa

Enquanto lê, ouça essa canção:




- Você os odeia, Joshua bobo? – ela me perguntou com aqueles belos lábios. Percebi que a palavra “odeia” não combinava com o som de sua voz.
- Não. Na verdade, não odeio ninguém. – respondi, enquanto tentava mais uma vez me equilibrar naquele galho.
- Por que será que as pessoas não admitem odiar outras, não é?
- Não, eu realmente...
- Joshua, bobo! Pare com isso! Ninguém quer admitir, porque ninguém quer ser imperfeito.
- Tudo bem, mas “ódio” é uma palavra muito forte, Alice.
- É. Mas as pessoas vivem nos dizendo que para resolver um problema, primeiro temos que admiti-lo. Como vamos resolver o problema do ‘ódio’ se nunca admitimos? – dito isso, ela pegou mais uma fruta da árvore e a mordeu.
Não sei se era porque estava apaixonado demais por aquela moça, mas acabei concordando. Do jeito que estava, concordaria com qualquer coisa que saísse daquela boca.
- Você odeia alguém, Alice?
Ela pareceu surpresa com minha pergunta. Mas não demorou muito a responder:
- Já odiei. Antigamente tinha a péssima mania de dizer as “coisas na cara” das pessoas. Admiti odiar muitos e magoei muita gente. Mas hoje não tenho mais nenhum problema com essas pessoas. Problemas admitidos, problemas resolvidos.
- É uma boa frase.
- Obrigada, acabei de inventá-la.
- Gostaria de usá-la no armazém.
- E por que não? Você não deve ser tão odiado por lá.
- Você que não sabe...
- Oras, e o tal de Alberto? Ele não era seu amigo? E seu pai? Ele o ama!
- Às vezes tenho dúvidas...
- Não seja tão bobo, Joshua, por favor!
Dei de ombros e então sorri pra ela. Ela não resistiu, e sorriu de volta pra mim. Será que estava apaixonada por mim também? Aquele já era nosso terceiro encontro, se nos encontrássemos mais uma vez e conversássemos sobre mais 2 assuntos, então aquilo corria o sério risco de virar amizade!
- Acho você tão bonita, Alice...
- Obrigada. Você também não é de se jogar fora. – disse ela, envergonhada.
- Contei tanto sobre meus problemas, mas ainda não sei nada sobre você.
- Minha vida não vale a pena ser contada nessas belas árvores. Iria estragar os frutos.
- Agora quem está sendo boba é você...
- Eu gosto de ser conhecida apenas como “a menina das árvores”. Contar sobre mim e meus segredos estragaria muita coisa entre nós.
- O que quer dizer? – Então havia “nós”. Era um bom começo
- Ué!? Você não está gostando disso?
- “Disso”? “Disso” o quê?
- Disso, Joshua.
- Explique melhor...
Enquanto íamos conversando, fui chegando cada vez mais perto dela através dos galhos. Tinha que dar o beijo naquele momento, ou tudo iria por água abaixo.
- Bem... – ela disse – há uma certa magia aqui entre nós. Essa nossa simpatia um pelo outro foi tão repentina, não é?
- Sim... – e cheguei mais perto. – Mas de que tipo de ‘magia’ você está falando?
- Uma magia boa. Uma magia agradável. Nem sei se estou usando a palavra certo.
- Então, diga a palavra certa “disso”...
- Acho que nós temos aqui uma bela...
- Uma bela o quê? - “Por favor, não diga a palavra ‘amizade’!!”, pensei comigo.
- Uma bela... ei, Joshua! O que está fazendo?
- Bem... eu... queria fazer uma coisa.
Estendi a mão para segurar a dela, mas algo estranho aconteceu.
- Não! Não, Joshua, por favor, não me toque.
- Hein? O que há de errad...
- Está na hora de ir embora. – ela disse, e desceu rapidamente da árvore.
- Alice, me desculpe, eu...
- Não tem problema.
- Espere aí...
- Até outro dia, Joshua! Tchau.
- Ei! Alice, não faça isso...
Mas já era tarde. Alice saiu apressadamente, e em pouco tempo já havia sumido de vista. Fiquei ali ainda, naquele galho, tentando entender o que se passara. Será que eu havia entendido tudo errado? E se tinha estragado tudo?
Não tive muito tempo para pensar mais. De repente, vi minha mãe, me gritando ao longe.
- Joshua! Joshua!!
Como ela sabia que eu estava ali? Ninguém sabia sobre Alice e o parque.
- Joshua!! Venha rápido!
- O que houve, mãe?
- Seu pai! Ele não está bem!
Um frio me subiu a espinha.

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