quarta-feira, 18 de abril de 2007

A origem

Penso mais uma vez no Príncipe Guilhermino, como ele conseguia conciliar, burlar o medo e seguir em frente, será isto apenas uma pré disposição genética?
Me lembro a primeira vez que o vi, simples, uniforme da empresa de Ônibus, na qual trabalhava, aparentemente uns 22 anos, e eu apenas uma criança na época, e por mais sutil que ele fosse carregando aquela sua mala de viagem, algo nele me chamou a atenção.
Os jovens tem uma tendência natural a inquietação, e como naquele ponto de ônibus estavam eu meu primo e meu irmão mais novo, buscávamos mais e mais meios para nos divertir, inclusive com a cara dos outros, se necessário, foi quando passou um sujeito digamos que “mal encarado”, trajando vestes pouco convencionais, inclusive um gorro de crochê colorido e um colete feito da mesma forma, ele mal passou por nossa frente e eu soltei um comentário, que no caso era só pra meu irmão e meu primo ouvirem, porém qualquer um que passe por alguém e escute um susurro e logo após uma gargalhada em conjunto achará aquilo um pouco estranho, e foi justamente o que aconteceu.
O sujeito parou a uns dez metros de nós encostou na parede e ficou encarando, e eu com a sensação de que tinha falado demais, e detalhe quem iria pegar o ônibus era só o meu primo, então quando todos entrassem ficaria só eu e meu irmão para trás, eu estava com a ligeira sensação de ter feito cagada.
Foi aí que Guilhermino se manifestou, é claro que até o presente momento eu não sabia seu nome e muito menos seu título, isso eu iria descobrir depois, e é outra história, mas ele disse o seguinte:
_É, acho que o rapaz ali não foi muito com a cada docês não!!
_Pois é, respondemos, com a confirmação de que nosso medo tinha uma legitimidade, não era só impressão. O que fazer numa situação daquelas, devo confessar que na atual data não haveria problema, mas para crianças era um pouco aterradora aquela situação.
Foi quando Guilhermino se abaixou, tirou um canivete de pressão da bolsa, acionou sacando a lâmina e a retraindo e colocou-o de volta no bolso, um simples gesto, mas fez toda a diferença.
No final das contas o cara acabou indo embora, mas por via das dúvidas entramos no ônibus também, só pra garantir, e descemos uns dois pontos depois contando com a compreensão do motorista.
Analisando agora, não tenho certeza se o cara parou ali por minha causa, ou apenas estava esperando uma prostituta, e a atitude de Guilhermino pode até não parecer muito heróica, se analisarmos apenas este fato em separado, mas pra mim fez diferença, o fato de alguém se disponibilizar a defender outrem realmente me fez pensar.
Éramos um bando de crianças inocentes, não, mereceria eu alguma punição pelo meu gesto, talvez, o jamaicano era o bandido da história, não.
Mas este pequeno gesto implantou um modelo da luta do bem contra o mal, e talvez este tipo de gesto em uma escala maior possa fazer alguma diferença! Seria o homem atual um terreno fértil para este tipo de semente, bem se eu fui, talvez dê certo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Putz, Flávio, parei pra refletir aqui e, realmente, talvez alguns exemplos desse tipo possam salvar a existência de algumas criaturas...

Embora de forma truncada, o personagem reconheceu que errou sem precisar ter sido punido, isso fez mesmo toda a diferença!

Será que um dia aprenderemos a lutar contra a guerra usando o amor???

Bjos!!!

Ciro disse...

Hahahahahahhah!!! Cara, adorei, assim como sempre adoro as histórias do Guilhermino. Pior q eu fico imaginando o cara real (o qual o personagem foi baseado), aí que rio mesmo.
Não era pra rir? Desculpe! Heheheheh!!
Mas pq esse texto não foi pro boneco? Pq guarda os melhores pra cá? Hã? Hã?