sexta-feira, 9 de julho de 2010

O DIABO ESTÁ LÁ FORA (parte IV de V)

“Sai de ré” por Ciro M. Costa

Enquanto lê, ouça essa canção:


- Então fiquem em silêncio, ou saiam. Vocês estão me atrapalhando!
Sair da sala era a última coisa que eu e Thabyta queríamos naquele momento.
Resolvi falar mais baixo. Quase um sussurro:
- Você sabe o que significa a oração que fez, Thabyta?
- Não. – ela disse, também num tom mais baixo. – Só sei que é para um santo e serve para espantar o Satanás. Hum...
- O que foi? O que quer dizer com “hum”?
- Eu não tenho certeza... mas certa vez ouvi falar que, se a oração não for feita corretamente, ela pode ter efeito contrário.
- Céus!
- Mas não é possível! Foi assim que me ensinaram! Ou será que faz tempo que não a digo que acabei esquecendo como se faz?
- Olha, Thabyta, eu não sei! O que sei é que algo deu errado e agora o capeta está lá fora, certamente esperando por nós.
Do lado de fora, o diabo fez sinal de positivo com a mão. Ele podia nos ouvir.
Sim, Jonathan! Ele pode ouvi-los! Não pode se esconder!
- Viu aquilo? – perguntei. – Ele concordou com o que eu disse! Estamos fritos!
- Ai! Eu estou com medo, Jonathan!
- Eu sei! Você já disse isso!
- Deveríamos avisar alguém! Chamar ajuda!
- Ah, claro! E quem vamos chamar? A polícia? Os caçadores de capeta? O Constantine? Ou os caras do Supernatural? E o que vamos dizer? “Olha, o capeta está lá fora e quer me pegar!”. Ou então: “Por favor, chamem o super-padre!”. Dá um tempo! Ninguém vai acreditar em nós! Ainda mais que o chifrudão lá fora não deixa ninguém mais vê-lo além de mim e você!
- Mas não podemos ficar aqui parados para sempre!
- Não?
O diabo riu mais uma vez. Um dos alunos olhou pela janela para ver de onde vinha a risada, mas a criatura se escondeu novamente.
Ele é bastante esperto, hein Jonathan? Você não é tão esperto assim, é?
Putz! Será que você não vai parar de me encher o saco? Como você é chata, hein?
Só estou fazendo meu trabalho!
Fiquei pensando no que fazer. Eu tinha que pensar em algo. É claro que não é todos os dias que se vê o capeta do lado de fora de uma janela, então não era nada fácil de se bolar um plano.
- Hum... talvez se tivéssemos um crucifixo... – eu disse.
O diabo riu e jogou um punhado de crucifixos pra cima, gritando “uhúúúú!!!”.
- Não. Não vai adiantar. Talvez água gelada. Se ele veio do inferno quente, um banho de água gelada poderá lhe causar um “choque térmico” e matá-lo!
O diabo agora estava dentro de uma banheira cheia de cubos de gelo e assobiava.
- Também não! Quem sabe... água benta?
O diabo tirou uma enorme garrafa com o rótulo “Água Benta DaBoa” e o bebeu inteiro. Depois arrotou.
- Hóstia?
Agora ele estava tirando hóstias de um pacote e comendo uma por uma. No saquinho estava escrito: “Hóstias sabor Bacon, da marca HELLma Chips”.
- Que droga! Nem um exemplar da Bíblia?
Que nada. Agora o diabo estava de óculos, sentado em um sofá e folheando a Bíblia calmamente.
Hahahahahahahahaha!!! Esse capeta é mesmo muito engraçado, não é Jonathan?
- Não adianta, Jonathan! – disse Thabyta, desconsolada. – Estamos perdidos! Ou vamos até lá, ou ficaremos presos nessa sala pra sempre!
- Não! – eu disse. – Tem que haver um jeito! Quem ele pensa que é?
- Ele não pensa. Ele é o diabo!
- Tem que haver uma maneira. Como o diabo foi derrotado nos filmes “O Exorcista” e “A Profecia”?
- Olha, Jonathan, eu não sei. Só sei que ele não deve ter sido derrotado tão facilmente, pois todos os filmes que você citou tiveram duas ou três seqüências!
- Tem razão!
- E eu continuo com medo!
O diabo ainda estava lá fora. Desta vez ele estava segurando seu tridente e bocejava. Parecia estar chateado. Por um momento, pensei se ninguém lá fora o tivera visto. Mas depois, vi que ele estava perto de uma grande árvore, e esta com certeza o estava escondendo das outras pessoas, ainda mais estando de noite.
Putz! Que “forçada” na história, hein Jonathan? Não tinha uma desculpa melhor?
Sua idiota! Eu disse a verdade! Realmente havia uma árvore por lá!
Dá um tempo! Pare de querer ficar explicando as coisas direitinho!
Eu paro se quiser! Sou eu quem está contando a história!
Pois saiba que você conta histórias muito mal! Você é bem fraquinho, amigo!
Ora, sua... Ei!!! Eu nem deveria estar discutindo com você! Que droga!
Hahahahahahahahahahaha!!!!! Eu ADORO isso!!
Neste momento, o professor Nilton olhou para o relógio. Sua aula terminara.
- Por hoje é só pessoal! Terminaremos esse assunto na próxima aula!
Antes que o professor pegasse seus materiais e fosse para a porta, o diabo sumiu da janela.
- Veja, Jonathan! – disse Thabyta, um pouco aliviada. – Acho que o capeta foi embora!
- Será? – perguntei.
- Nossa, como você é pessimista, hein?
- Desculpe.
O professor saiu da sala e fechou a porta. Era hora do intervalo. Alguns alunos começaram a se levantar, mas eu ainda estava “grudado” em minha carteira.
- Será que vamos ter coragem de ir até a cantina tomar um lanche? – perguntou Thabyta.
- Eu sei que eu não! – respondi.
- Acho que eu tamb...
Antes que Thabyta completasse sua frase, a porta da sala se abriu novamente. Era o professor Nilton.
- Eu... eu... – disse ele, mas não passou disso.
O professor estava com uma cara bem estranha. Parecia ter visto um fantasma.
Sabemos muito bem quem ele viu, não é Jonathan?
Com certeza, ele havia visto o diabo. Por algum motivo, este último lhe pregou algum susto, para que eu e Thabyta ficássemos mais apavorados ainda.
E o professor, coitado, além de estar com uma cara de espanto, ainda estava de cabelos em pé. Detalhe: antes de sair da sala, ele era careca.
- Minha Nossa, Jonathan! Você viu aquilo?
- Claro que vi, Thabyta! Eu não sou cego!
- Ai! Eu estou com medo de novo!!
O professor saiu da sala novamente, e eu nunca mais o vi...

CONCLUIRÁ NA SEMANA QUE VEM!!!!

Um comentário:

Pietro disse...

Nem verá!