quinta-feira, 17 de junho de 2010

O DIABO ESTÁ LÁ FORA (parte I de V)

Invocado por Ciro M. Costa


Sabem, nunca acreditei nessa história de “ir para o inferno”, criaturas chifrudas e fogo eterno após a morte. Parece meio absurdo, não é? Sim, é absurdo mesmo. Porém, depois daquele dia de aula, não sei se isso é mais tãããão absurdo assim...

Meu nome é Jonathan. Jonathan Marcel. Muitos acham meu nome ridículo. Eu também acho. Sendo brasileiro, eu deveria ter outros nomes mais comuns como João, Paulo, José, Fernando, Marcio, Ricardo... dentre tantos outros. Mas não! Meus pais tinham que dificultar as coisas! Nada contra esses nomes americanizados, mas... ei! O que é que estou fazendo? Isso não tem nada a ver com a história que vou contar! Vamos mudar de parágrafo e começar de novo.
Meu nome é Jonathan Marcel. Sou calouro de Letras na Universidade de Uberaba. E a história que vou lhes contar, aconteceu justo lá. Eu poderia perder algum tempo contando como é a universidade e detalhar um pouco as coisas, mas o caso é que quero ficar livre disso logo. Estou muito traumatizado com essa história toda! Às vezes sonho que estou dentro daquela sala e o chifrudão está do lado de fora, me esperando com seu tridente. Quem é o chifrudão? Vocês sabem quem é! Está no título desta história! Aliás, não foi só eu quem ficou traumatizado com aquilo tudo. Minha amiga, Thabyta, também ficou. Mas foi tudo culpa dela...
Como sempre, o professor de latim, Nilton, um homem careca e com seus óculos de grau sempre ajeitados acima do nariz, estava fazendo suas costumeiras explicações recheadas com piadas do arco da velha. Bem, pessoalmente nunca tive nada contra as piadas dele, mas é que já havia escutado todas, então já não tinham mais tanta graça – se é que já tiveram algum dia. Mesmo assim, aquela era uma aula que todos gostavam. O professor Nilton era um ótimo profissional e creio que se houvesse aulas de latim com outro professor, não seria a mesma coisa. Hum... pra falar a verdade, seria sim! De qualquer jeito, com qualquer professor, eu e Thabyta nunca iríamos prestar atenção! Aprender latim? Pra quê?
Latim é a origem de todas as palavras, Jonathan! Você não sabia disso? Hein?
Eu e Thabyta nos sentávamos quase ao fundo, um ao lado do outro. Engraçado, quando estamos na faculdade, a sala fica um tanto estranha. Um tanto de gente pra lá, outro tanto pra cá, outro tanto ali na esquerda... uma verdadeira divisão de “panelas”. E eu e Thabyta fazíamos parte da pior delas, pois não prestávamos atenção em 82,7% daquelas aulas. Hein? Vocês querem saber quem é Thabyta? Thabyta é minha amiga. Ela já foi mais estudiosa em tempos passados, mas ultimamente eu sentia que ela não estava nem aí para muitas matérias, principalmente latim. Na maioria das vezes, Thabyta ficava lá, com seus longos cabelos loiros e seu aparelho celular na mão, sem fazer nada. Ou, pra não falar que não fazia nada, ela conversava à beça comigo e com nossa outra amiga, Rosemary. Putz! Mais um nomezinho americanizado para vocês decorarem. Não poderiam ter nomes mais simples como ‘Thaís’ ou ‘Roseli’?
Naquele dia, Rosemary ainda não havia chegado. Ela tinha problemas de estômago e creio eu que ela estava em algum banheiro do lado de fora. Ou então havia visto uma daquelas barraquinhas de bijuterias e tenha parado por lá. Sabem como são essas mulheres... acho que aquelas “coisinhas” costumam brilhar mais para o olho feminino, como uma espécie de hipnose. E às vezes elas ficam tão “psicadas” com aquilo, que passam fome só para ter um brinco novo pendurado na orelha.
O professor Nilton começou com aquele negócio de “pruella sei lá o quê”, e eu estava observando Thabyta folhear uma revista que falava sobre o cavalo de Tróia.
- Putz! Essa aula é terrível! – comentei.
Ela, sem tirar os olhos da revista, disse:
- Se você prestasse mais atenção, iria gostar dela!
- Ei!!! – eu disse.
Neste momento, o professor olhou pra o nosso lado e levantou a mão direita, dizendo:
- Psssiiu! Só um momentinho, gente!
Esse era o modo como ele nos mandava calar a boca.
- Thabyta, o que foi que te fiz, hein? Por que falou assim comigo? – perguntei, sussurrando.
Ela riu. Continuei:
- E você? De certo está prestando atenção na aula, né? E essa revista aí? Hein? Isso aí é latim?
- Não! – ela respondeu. – Mas também não estou reclamando como você!
- Meu Deus! Está com a língua afiada hoje, hein?
- Desculpe, Jonathan! Estou apenas brincando.
- Sei...
- Na verdade, essas aulas de latim são mesmo muito chatas. A língua em si é chata!
- É verdade! Isso não vai nos servir de nada!
Novamente, o professor pediu silêncio. Tive a impressão de que ele começava a não gostar de nós.
- A única coisa que sei falar em latim, é uma oração que aprendi. – disse Thabyta, desta vez falando mais baixo.
- É mesmo? – perguntei. – E como é essa oração?
Sabem, leitores, se eu tivesse uma máquina do tempo, retornaria exatamente na hora em que fiz essa pergunta e me daria um tapa na cara. Eu jamais deveria ter pedido para Thabyta fazer tal oração. Aquilo foi o início de nossos problemas...

- Você quer mesmo ouvir? – ela perguntou, com a maior tranqüilidade do mundo (deste mundo, não de outro).
- Claro! – respondi ingenuamente.
- Então, lá vai...
Com certeza, vocês devem estar curiosos para saber como era a tal oração. Rá! Mesmo que eu me lembrasse, nunca – eu disse nunca – a colocaria aqui, por dois motivos: primeiro, como já disse, tenho trauma disso tudo! Tenho arrepios só de lembrar daquilo! Jamais arriscaria fazer aquilo acontecer de novo! E, segundo, vocês leitores poderiam repetir essa oração a “torto e a direito” por aí e isso não seria nada bom para a saúde de vocês. Nada bom mesmo!
Ei! Ei! Está com medo Jonathan? Hein? Está com medo?
Thabyta começou a fazer a oração em voz baixa para que somente eu a escutasse. Sabem, a oração em si era mesmo muito apavorante. Sei lá, parecia saída daqueles filmes de exorcismo, quando algum padre tenta tirar o ‘demo’ do corpo de alguma pessoa.
Mas parece que o efeito foi o contrário.
Agora as coisas vão ficar mais emocionantes, hein Jonathan?
Assim que Thabyta terminou a oração, não sei por que diabos, mas comecei a me sentir estranho. Talvez fosse apenas uma tontura repentina. Ou talvez fosse pelo cheiro forte que comecei a sentir de repente.
Cheiro de enxofre.
- Céus! – exclamei. – Que catinga é essa?
- Alguém comeu algo estranho no almoço. – ela disse.
- Estou falando sério, Thabyta! Esse cheiro não é comum! Não está sentindo?
- Pra falar a verdade, estou sim! Cheiro esquisito...
Começamos a olhar para os lados, a fim de descobrir de onde vinha aquilo. Algumas pessoas também começaram a reclamar do cheiro. Alguém disse:
- Desta vez não fui eu, hein?
- Putz! Alguém está podre por aqui!
E o professor pediu silêncio novamente.
- Só um momento, pessoal! O latim é uma língua...
Não sei se algum de vocês já sentiu... CONTINUA NA SEMANA QUE VEM!!!!!!

Um comentário:

Pietro disse...

Caramba Ciro, quando estava ficando realmente emocionante, eu vidrado nessa porra toda, você me fode com o fim do texto.

Mal posso esperar pela continuação!